byron leeByron Lee
Inevitável associar a música jamaicana aos negros, já que estes são maioria na ilha. Porém, ainda no século XIX, quando a Jamaica era apenas colônia da Inglaterra, uma série de imigrantes chineses desambarcou para trabalhar em plantações de cana. Com o passar do tempo, os filhos e netos daqueles pioneiros já estavam completamente adaptados a cultura do país. Muitos, inclusive, eram donos de comércios e participavam ativamente da vida cultural da ilha caribenha.
O primeiro chinês a se envolver com música na Jamaica foi Thomas Wong com sua soundsystem Tom the great Sebastian. A sound participou do primeiro soundclash que se tem notícia. Confrontando Count Nick, o resultado não poderia ser melhor, vitória de Wong. Na equipe, dois jovens que dariam muito o que falar anos depois: Count Machuki, o primeiro toaster e Duke Vin, que por muitos é considerado o precursor das soundsystem na ilha. Uma característica interessante da Tom the great eram as caixas dispostas em árvores, piração do DJ na busca pela sonoridade mais pesada que de seus concorrentes.
lesliekongDez anos depois, um descendente de chineses estaria por trás do descobrimento do principal nome da música jamaicana em todos os tempos. Dono da sorveteria/loja de discos Beverley’s, o produtor Leslie Kong descobriu Bob Marley e produziu alguns compactos de pouco sucesso. A relação com Marley terminou abruptamente, depois que o producer não pagou o que deveria ao músico. Leslie Kong ainda trampou com importantes músicos jamaicanos como Derrick Morgan, Desmond Dekker, Stranger Cole, Jimmy Cliff e os conjuntos Maytals e Pioneers. Foi pelas mãos do producer que Dekker estourou com Israelites em 68. Ainda na era do ska, foi graças a Kong que o império que se tornou a Island Records de Chris Blackwell começou a se expandir. O chinês produziu uma série de compactos que seriam lançados no Reino Unido através da subsidiária da Island Black Swan. Com o fim da parceria, ainda trabalhou no selo inglês Pyramid, adquirido anos depois pela Trojan. Leslie Kong morreria no começo dos anos 70, vítima de um ataque cardíaco, suposta maldição vinda de Bunny Lee dos Wailers após lançar uma coletânea sem permissão do trio.
Os chineses não estavam apenas no backstage. Byron Lee, falecido em 2008, foi um dos mais importantes músicos caribenhos em todos os tempos. Lee foi um dos baluartes do ska junto com seu grupo Dragonaires e tocou de tudo um pouco. Do calypso ao soca, do ska ao reggae, o multinstrumentista também era produtor e foi dono do Dynamic Sounds, uma das principais labels da Jamaica e com um estúdio que chegou a receber músicos de renome internacional para gravar. Nem cabe aqui falar muito mais acerca de sua relevância e legado na música, todo o seu trabalho responde por isto.
chinloyA lista de descendentes de chineses na indústria musical jamaicana não parava por aí. Herman Chin Loy trabalhou com Lloyd Charmers e também foi responsável pelo primeiro disco de dub, o Aquarius Dub de 73. Joseph e Ernest Hoo Kim eram os donos do selo Channel One que contava com a eterna dupla Sly & Robbie. Boa parte da produção da label pode ser conferida em coletâneas como Hit Bound: The Revolutionary Sound Of Channel One e Channel One Well Charged. Para não cometer injustiças, é até melhor parar por aqui.
Finalizando, a presença chinesa é abordada por vários artistas conhecidos na ilha. Yellowman, em uma de suas músicas falava que queria pegar a filha do chinês. Já Prince Buster com Black Head China Man, tirava sarro do amigo Derrick Morgan, que surrupiou um solo de sax de Lester Sterlng e enviou para o chefe Leslie Kong: “You done stole my belongings and give to your China man / God in heaven knows / He knows that you are wrong / Are you a China man are you a black man? / It don’t need no eye glass to see that your skin is black / Do you prefer your China man to your fellow blackman?”. Causos do curioso showbusiness jamaicano.